Semana passada, fui pega de
surpresa por uma reportagem que dizia que o ator Alan Rickman, o Severo Snape
da série de filmes Harry Potter, foi o único ator da série que já sabia o final
de seu personagem desde quando começou a gravar, para que assim o interpretasse
da forma mais brilhante possível.
Como uma eterna fã dessa
série, relembrei os momentos finais de Severo e também de toda a saga e isso me
inspirou a escrever, pela primeira vez, sobre a profunda impressão que obtive
das historias de J.K. Rowling.
Devo começar ressaltando a
complexidade de relações humanas que há nessas histórias para que crianças
muito pequenas possam entender. A real compreensão de todos os ensinamentos que
essa série nos dá, percebo que são compatíveis apenas para crianças a partir de
12 anos. Será impossível para uma criança de 9 por exemplo, entender o quão
profundamente sentimentos podem se enraizar no coração humano, transformando um
dos principais vilões em mocinho, um praticamente anti-herói de difícil compreensão. Alguém
reservado, envolto em muitos mistérios, assim como alguns outros personagens e
contos da série.
É incrível constatar hoje, que
para uma simples série de fantasia para crianças, há uma forte simbologia e
lição de vida para todos os que contemplaram o final da série. O jeito
fantástico de J.K. Rowling nos ensinar uma verdade universal: “Cuidado com o que desejas. Nem sempre algo
que queremos muito vai nos trazer a felicidade que esperamos.”.
Acredito que ela se inspirou
em suas próprias experiências enquanto uma jovem professora que se muda para
outro país em busca de uma felicidade na qual descobriu, um tanto tarde, que
nada aconteceria do jeito que ela idealizou.
Para nos ensinar essa
importante lição, ela enredou a história de três irmãos bruxos que há muito
séculos andavam por uma estrada escura e no final da mesma deparam-se com um rio bem perigoso para se
atravessar. A única solução que encontraram para atravessar aquele obstáculo
foi recorrer aos seus talentos e com suas magias construíram uma ponte para
ultrapassar aquela correnteza que certamente os levaria a morte.
Eis
que no meio da travessia se vêem frente a frente com a mesma, que está zangada
pelo fato de ter construído aquela armadilha para capturar mais vítimas, pois
em tempos calmos como aqueles estava um tanto difícil manter-se ocupada, e o
que deveria ser apenas mais três almas para levar consigo transforma-se em três
rapazes talentosos á trapaceá-la.
Mas
esperta como é, a morte fingiu parabenizá-los por seus feitos e lhes prometeu presenteá-los
por terem sido inteligentes o bastante para lhe escapar. O irmão mais velho que
gostava de brigar pediu a morte à varinha mais poderosa que existisse, uma que fizesse
jus ao bruxo que a derrotou! E assim a morte foi à beira do rio, tirou o galho
de uma árvore e o transformou em varinha, entregando-a ao mesmo.
O
irmão do meio quis humilhar a morte por ser um homem arrogante, e pediu o poder
de ressuscitar aqueles que ela já levou. A morte voltou à beira do rio e de lá
tirou uma pedra, entregando ao mesmo e lhe garantindo que ela trará os mortos
de volta.
Já o irmão mais novo, mais humilde e mais
sábio, desconfiou da boa vontade da morte e lhe pediu apenas que arranjasse um
modo dele sair dali sem ser seguido por ela. A morte a contra gosto deu-lhe sua
própria capa de invisibilidade. E então os deixou passar e eles ficaram um
tanto abismados pelo que lhes ocorrera e pelos presentes que ganharam.
Depois
de um tempo, seguiram caminhos separados e o primeiro irmão tratou logo de
testar sua varinha indo ao uma aldeia onde havia um velho inimigo seu. Logo
depois do encontro seguiu-se o combate no qual o irmão deixou seu inimigo morto
ao chão, e foi a uma estalagem beber e se vangloriar de ser o bruxo mais
poderoso do mundo, por possuir a varinha mais mortal. Quando foi dormir, já
zonzo de tanto vinho, outro bruxo esgueirou-se em seu quarto, roubou-lhe a
varinha e para se garantir, lhe cortou a garganta. E assim, a morte o levou.
O
segundo irmão voltou depressa para casa e lá rodou a pedra na mão três vezes
para ressuscitar uma jovem por quem se apaixonara e desposaria se a morte não a
tivesse levado tão cedo. E eis que ela surge em sua frente, tão bela como na
ultima vez em que a viu. Mas havia alguma coisa errada, a jovem tinha um jeito
opaco, frio, distante. Ainda parecia sem vida, sem alma. Apenas o corpo. Seu
coração e sua mente não estavam mais ali nesse mundo, e ela sofria muito por
ter sido trazida de volta. Desesperado ao perceber que sua amada só voltara
pela metade, o irmão se matou para se unir verdadeiramente a ela. E assim a
morte o levou.
A
morte perseguiu o terceiro irmão por muitos anos e nunca o encontrou. Só quando
o mesmo atingiu idade avançada, tirou a capa e entregou-a ao filho, instruindo-lhe
a usá-la com sabedoria. E então acolheu a morte como uma velha amiga e juntos,
partiram desta vida.
Criando
um laço entre esses três irmãos bruxos e os seus principais personagens da
série. O que nos faz especular se Harry Potter, por exemplo, não é um legítimo
descendente do último irmão (o que não fica tão claro nos livros), pois desde o
início da série ele ganha uma capa de invisibilidade que não desbota, não
rasga, não danifica.
O
segundo descendente seria o Sir. Nicolau Flamel e sua inusitada pedra filosofal.
E como descobrimos nos momentos finais da série, a descendência da varinha das
varinhas é pelo sangue, morte, derrota absoluta do oponente. É assim que se
transfere seu poder, e assim Harry derrota seu maior inimigo. Se não fosse pela
pedra filosofal destruída logo de início, Potter poderia ser considerado o
senhor da morte, como diz a lenda bruxa que qualquer um que consiga deter o
poder dos três elementos se tornaria.
Creio
que o envolvimento desses personagens em toda a história nos mostra que: “Somente interfira com os mistérios mais
profundos – a origem da vida, a essência do eu, o poder absoluto sobre os
outros – se estiver preparado para enfrentar as consequências mais extremas e
perigosas.” E que o ser humano têm um pendor para escolher precisamente as
coisas que lhes fazem mal.
Portanto
devo-lhes dizer que as histórias infantis, e aparentemente tão bobas, podem
conter lições de existência humana em sociedade, até um tanto difíceis de
compreender em sua totalidade para mentes tão imaturas, mas que podem guiar
nossos filhos e filhas para o caminho certo no futuro. A jornada do bem.
Siquara, Isabele 09/07/2014