quarta-feira, 9 de julho de 2014

A Simbologia dos Três Irmãos



Semana passada, fui pega de surpresa por uma reportagem que dizia que o ator Alan Rickman, o Severo Snape da série de filmes Harry Potter, foi o único ator da série que já sabia o final de seu personagem desde quando começou a gravar, para que assim o interpretasse da forma mais brilhante possível.

Como uma eterna fã dessa série, relembrei os momentos finais de Severo e também de toda a saga e isso me inspirou a escrever, pela primeira vez, sobre a profunda impressão que obtive das historias de J.K. Rowling.

Devo começar ressaltando a complexidade de relações humanas que há nessas histórias para que crianças muito pequenas possam entender. A real compreensão de todos os ensinamentos que essa série nos dá, percebo que são compatíveis apenas para crianças a partir de 12 anos. Será impossível para uma criança de 9 por exemplo, entender o quão profundamente sentimentos podem se enraizar no coração humano, transformando um dos principais vilões em mocinho, um praticamente anti-herói de difícil compreensão. Alguém reservado, envolto em muitos mistérios, assim como alguns outros personagens e contos da série.

É incrível constatar hoje, que para uma simples série de fantasia para crianças, há uma forte simbologia e lição de vida para todos os que contemplaram o final da série. O jeito fantástico de J.K. Rowling nos ensinar uma verdade universal: “Cuidado com o que desejas. Nem sempre algo que queremos muito vai nos trazer a felicidade que esperamos.”.

Acredito que ela se inspirou em suas próprias experiências enquanto uma jovem professora que se muda para outro país em busca de uma felicidade na qual descobriu, um tanto tarde, que nada aconteceria do jeito que ela idealizou.

Para nos ensinar essa importante lição, ela enredou a história de três irmãos bruxos que há muito séculos andavam por uma estrada escura e no final da mesma deparam-se com um rio bem perigoso para se atravessar. A única solução que encontraram para atravessar aquele obstáculo foi recorrer aos seus talentos e com suas magias construíram uma ponte para ultrapassar aquela correnteza que certamente os levaria a morte.

Eis que no meio da travessia se vêem frente a frente com a mesma, que está zangada pelo fato de ter construído aquela armadilha para capturar mais vítimas, pois em tempos calmos como aqueles estava um tanto difícil manter-se ocupada, e o que deveria ser apenas mais três almas para levar consigo transforma-se em três rapazes talentosos á trapaceá-la.

Mas esperta como é, a morte fingiu parabenizá-los por seus feitos e lhes prometeu presenteá-los por terem sido inteligentes o bastante para lhe escapar. O irmão mais velho que gostava de brigar pediu a morte à varinha mais poderosa que existisse, uma que fizesse jus ao bruxo que a derrotou! E assim a morte foi à beira do rio, tirou o galho de uma árvore e o transformou em varinha, entregando-a ao mesmo.

O irmão do meio quis humilhar a morte por ser um homem arrogante, e pediu o poder de ressuscitar aqueles que ela já levou. A morte voltou à beira do rio e de lá tirou uma pedra, entregando ao mesmo e lhe garantindo que ela trará os mortos de volta.

 Já o irmão mais novo, mais humilde e mais sábio, desconfiou da boa vontade da morte e lhe pediu apenas que arranjasse um modo dele sair dali sem ser seguido por ela. A morte a contra gosto deu-lhe sua própria capa de invisibilidade. E então os deixou passar e eles ficaram um tanto abismados pelo que lhes ocorrera e pelos presentes que ganharam.

Depois de um tempo, seguiram caminhos separados e o primeiro irmão tratou logo de testar sua varinha indo ao uma aldeia onde havia um velho inimigo seu. Logo depois do encontro seguiu-se o combate no qual o irmão deixou seu inimigo morto ao chão, e foi a uma estalagem beber e se vangloriar de ser o bruxo mais poderoso do mundo, por possuir a varinha mais mortal. Quando foi dormir, já zonzo de tanto vinho, outro bruxo esgueirou-se em seu quarto, roubou-lhe a varinha e para se garantir, lhe cortou a garganta. E assim, a morte o levou.

O segundo irmão voltou depressa para casa e lá rodou a pedra na mão três vezes para ressuscitar uma jovem por quem se apaixonara e desposaria se a morte não a tivesse levado tão cedo. E eis que ela surge em sua frente, tão bela como na ultima vez em que a viu. Mas havia alguma coisa errada, a jovem tinha um jeito opaco, frio, distante. Ainda parecia sem vida, sem alma. Apenas o corpo. Seu coração e sua mente não estavam mais ali nesse mundo, e ela sofria muito por ter sido trazida de volta. Desesperado ao perceber que sua amada só voltara pela metade, o irmão se matou para se unir verdadeiramente a ela. E assim a morte o levou.

A morte perseguiu o terceiro irmão por muitos anos e nunca o encontrou. Só quando o mesmo atingiu idade avançada, tirou a capa e entregou-a ao filho, instruindo-lhe a usá-la com sabedoria. E então acolheu a morte como uma velha amiga e juntos, partiram desta vida.

Criando um laço entre esses três irmãos bruxos e os seus principais personagens da série. O que nos faz especular se Harry Potter, por exemplo, não é um legítimo descendente do último irmão (o que não fica tão claro nos livros), pois desde o início da série ele ganha uma capa de invisibilidade que não desbota, não rasga, não danifica.

O segundo descendente seria o Sir. Nicolau Flamel e sua inusitada pedra filosofal. E como descobrimos nos momentos finais da série, a descendência da varinha das varinhas é pelo sangue, morte, derrota absoluta do oponente. É assim que se transfere seu poder, e assim Harry derrota seu maior inimigo. Se não fosse pela pedra filosofal destruída logo de início, Potter poderia ser considerado o senhor da morte, como diz a lenda bruxa que qualquer um que consiga deter o poder dos três elementos se tornaria.

Creio que o envolvimento desses personagens em toda a história nos mostra que: “Somente interfira com os mistérios mais profundos – a origem da vida, a essência do eu, o poder absoluto sobre os outros – se estiver preparado para enfrentar as consequências mais extremas e perigosas.” E que o ser humano têm um pendor para escolher precisamente as coisas que lhes fazem mal.


Portanto devo-lhes dizer que as histórias infantis, e aparentemente tão bobas, podem conter lições de existência humana em sociedade, até um tanto difíceis de compreender em sua totalidade para mentes tão imaturas, mas que podem guiar nossos filhos e filhas para o caminho certo no futuro. A jornada do bem.  


Siquara, Isabele 09/07/2014



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